Um ano em Berlim. E agora?

Nunca fiz tanta coisa em apenas um ano com fiz no último, e quase tudo foi no campo das adaptações, burocracias e (falta de) paciência.
O processo de ser imigrante é exaustivo, o frio é realmente pesado (-6 na última noite e isso e só o começo) e a sensação inevitável de estar começando do zero.
Eu vim pra cá com um plano e tanta coisa mudou na minha cabeça, as percepções sobre a vida que tenho são totalmente outras agora. Lembro que na ultima sessão de tarô que tive saiu algo sobre as coisas darem certo, mas diferente dos meus planos. Acabei de me lembrar disso.

Sinto que já posso comemorar pelas coisas que me deixavam mal no inicio dessa mudança agora não tem mais poder porque eu sou simplesmente outro ser. De novo. Vivi uns 5 anos em apenas um. Sempre uma nova Eve, mas ainda a mesma Eve.
Posso comemorar porque estou onde eu queria estar e com quem queria estar. Essa alegria é impagável.

Aqui, enquanto fumava um beck e brincava com a gata, decidi ‘mudar’ o caminho da minha carreira. Na verdade ‘voltar’ pro design depois de 10 anos como exclusivamente como artista. Posso ser criativa e até amplamente vista sem ter que fazer media, sem cutucar tanto as coisas que me incomodam internamente, sem depender tanto de likes pra ser notada onde tem literalmente uma maquina contra mim. Só aqui de boas no meu cantinho sendo quem sou, me inspirando em minha nova rotina, decorar minha nova casa, ter uma rotina real com meus amigos, conhecer musica nova, enfim, viver.

No último evento que tive que lidar com público me veio um ~insight: Preciso mesmo me colocar tão a prova assim toda vez que quiser exercer minha profissão? Porque assim, eu tenho um problema real com lidar com publico, com pessoas e quando isso e sobre meu trabalho, fica ainda mais pesado. Sei lá… eu sei ate onde consigo ir, então não seria legal da minha parte procurar um caminho que eu não precise ir sempre nos limites dos meus limites? E isso me deu uma felicidade imensa. Parece que tinha destravado algo que estava me atrapalhando há tempos.

Eu amo pintar, amo o processo criativo, amo ver a coisa nascendo, mas nossa… ganhar a vida com isso nos últimos anos tem sido muito difícil e conflitante, um teste de amor e resistência. Pela grana, pelo mundo que não é mais o mesmo, pelas mudanças da minha vida pessoal… não faz mais tanto sentido me dar tanto por uma rotina que me faz sofrer. Não posso também viver de lembranças porque há 10 anos atras era simplesmente a coisa mais legal do mundo.

Gosto de pensar que a parte boa de começar do zero é eliminar os maus hábitos e poder mais um mesma, já que estou em um contexto que ninguém me conhece, então um grande foda-se. Quero me vestir estranha como sempre quis, quero andar multo por Berlim, encontrar meus cantos favoritos porque é um grande incentivo pra eu sair de casa. Poder ser o que me podaram, poder deixar cair todas as camadas de resistência.

Caraca!!! Me faz muito bem escrever.
Que vire um habito aqui, mas também não vou me cobrar.

Obrigada por ler 🙂